a visibilidade é uma armadilha
cultivar a sombra das florestas
prolongar a bruma dos pântanos
Escorrer ao longo das linhas de falha dos lagos e montes escarpados
O fora está em processo de abolição
(Bona, 2020, p. 44)
Um primeiro problema metodológico que apareceu na pesquisa foi o caráter invisível das menstruações de quem pesquisa, incluindo a minha própria menstruação. O material com o qual eu queria trabalhar existia, de forma majoritária, apenas enquanto aparição fantasmagórica nas frestas das Instituições Acadêmicas. Talvez invisível nem seja o termo mais adequado para descrever a presença ausente da menstruação: insensível pode ser uma palavra melhor. Não é só a visibilidade que é ocultada, mas todos os outros sentidos. A menstruação não é sentida e, quando é, é apenas como arrepio, algo cuja presença é tão estranha que escapa à possibilidade de nomeação. Então, para que a realização dos experimentos acontecesse, foi preciso criar modos de comunicação entre essa dimensão insensível das menstruações (que continua existindo e sendo o modo majoritário de percebê-las) e uma encarnação, incorporação momentânea e provisória que permitisse que nós sentíssemos sua presença, e, assim, pudéssemos, em carne e osso, pelo menos por um instante, transformar o sangue menstrual em matéria de pensamento. Foi necessária a operacionalização de uma ação de evocação.
Ao manipular meus materiais de pesquisa e constatar a necessidade de evocá-los, desenvolvi, ao longo da pesquisa, uma estratégia metodológica de des.enfeitiçamento. A seguir, apresento o desenho desta estratégia, e duas técnicas que derivam dela: as técnicas de reclamação e as técnicas de proteção. Descrevo, também, como ambas foram utilizadas, principalmente através de “fazer trabalho com sangue menstrual” como ferramenta metodológica.